Falso amor moderno - parte 2

Te dei a senha do meu wi fi,
Do meu cartão;
Desbloqueei meu telefone
E meu coração

Mas a conexão caiu
Quando eu caí na sua rede.
Meu 4G não suportou
Nosso "entre 4 paredes"

Seus stories ainda vêm primeiro,
No uber vejo seu endereço.
Vivo por suas visualizações:
Daqui a pouco eu enlouqueço!

Eu fui com muito conteúdo
Pra sua pouca memória.
Eu fui uma mulher apaixonada;
Você, só um contador de histórias.

Enredada

Alguém me desenreda

Que já deu esse enredo.

Eu já tô é com medo

De morrer na sua rede

Enrolada, sufocada.

De morrer de sede

De ser amada.

Se a história é mal tramada,

Ao menos foi bem vivida;

Eu sei que nunca fui cotada

Pra ser sua protagonista.

Quero sair dessa estrada,

Do seu ponto de vista:

Não há poeta que entenda,

E nem coração que resista.

Fogo santo

Me traz aconchego
E eu muito me apego
Viro bicho cego

Tua fome em mim
Meu corpo imerso
O balé do sexo
Tudo
Eu torno inverso:
O carnal vira sublime
Quando ponho o ato em verso

Santo fogo que me trazes!:
Nada é mais divino
Que a poética das frases

E se me usas pro seu despudor,
Também te uso
Como muso
Inspirador.

Meio a meio

Le io e re le io,

Vou e não voo.

O coração dividido ao meio

Entre o desejo e o receio

Me seguro na entrega,

Engano minha vontade.

(Não se encontra assim cara-metades,

destinos mapeados nos astros,

nas mãos)

Te espero

Pra além da curva;

No final do furacão.

Falso amor moderno

Poupe os corações vermelhos.
Guarde a hashtag saudade.
Quero você real e inteiro
Me dizendo a verdade

Nudes, como pude?
Só me fez passar vontade.
Pela tela você me ilude...
Amor fake é #maldade

Tela colorida

E depois de tanto balde
De água fria
Eu continuo acreditando
Na poesia

O verso não reduz:
Ele reluz.
É pura magia!

E depois de tanta tela
Incolor
Eu continuo acreditando
No amor

O coração não dorme:
Ele se acalma.
Amansa
E acende
Quando necessário for

E aí me lança
E me prende
E esse tal de verso
É o libertador

Poder

Plena: esse é o plano.
O Agora é a Lei
E eu sou o Sol.
Eu dito as regras
Mas vivo sem.
Desejo o Novo,
Emano o bem.

Eu deusa
Eu poeta
Eu várias
Na solidão

Eu lúcida
Eu lúdica
Eu dona
Da revolução

Da força que tem em mim
Você não tem noção

27

Sapiente Saturno,
Estou dançando em seus anéis,
Bailando em suas curvas.
Ouvindo em muitos decibéis
As verdades sobre a vida

Amigo Saturno,
Sempre fostes um aliado.
Temos intimidade profunda.
Agora te vejo distantanciado
Me dando ordens de um pai

Severo Saturno,
Ainda dá tempo de errar?
De me perder no caminho
E depois voltar?

Infeliz Saturno,
Por que tás tão cruel?
Me arrancas de mim sem piedade,
Vou assumindo um novo papel -
Na marra, na agonia, na dor.

Sei que um dia hei de ser grata
Mas por favor não mais maltrata
Essa alma-flauta-doce de amor...

O amor é uma árvore do cerrado.

O amor é tortuoso
É estranho, embaraçoso
Não é limpo-lustroso
Nem polido-brilhante.
Não reluz igual diamante:
É muitas vezes cavernoso
E tantas outras irritante.
E se a gente se encontrar
No não-ser que o amor é?
A gente enxerga como der
A beleza que ele tem.
O amor mesmo dá seu jeito:
Com a gente junto ele fica lindo,
Ainda que tão imperfeito.

Adubo

Joga a merda no ar
No chão, na cara do amor
Na porra do ventilador
Joga que vai ser bom
A merda no chão aduba...
Não pensa nem estuda,
Só joga, vai!
Joga pra cima e pro lado
Limpa a sujeira do telhado
Tira a merda toda
Se alguém repara, que se foda!
A merda no chão floresce...
Joga a merda e esquece!
O que jogou tá jogado
Não chora pelo estrume derramado.
Espera o jardim acontecer...
Se prepara prum outro amanhecer
Onde outras merdas virão
E um dia adubarão
O novo terreno do seu ser!