Tropeços da identidade

Giro, procuro

Me enrosco e misturo 

Nunca você, mas sempre alguém 

(Essa busca ainda vai me levar além)

Saio e perturbo

Me engano e deturpo.

É torre caindo no chão,

Moeda escapando da mão 

Sempre um caminho,

Mas nunca o lugar

Faço ao outro, espelho meu,

A pergunta que não quer calar:

Quem sou eu?

Abismo

Viver é isso,

um eterno abismo

Todo dia

Se solta o freio de mão

E se joga do precipício

O amor tem disso,

o não-saber típico

É jogo

De sim e não

É nada ou é vício

Treze andares

Chegou de mansinho...

Conquistou a Europa,

a Oceania;

O jogo virou,

Eu virei poesia

O amor veio simples

Como essa escrita:

O verso sabe o caminho,

O coração é quem dita.

Me acho na sua graça,

Quero cada vez mais.

A gente é feliz e nem disfarça...

Dois imortais!

O medo agora é vontade,

A regra agora é viver.

Só treze andares de sorte

Que me separam de você 

Não-conto

Será que eu conto

Que sou capaz de passar horas

Relendo nossos contos?

A cada pedacinho de prosa,

O encanto aumenta um ponto.

Conto os pontos, ao final...

E, afinal, será que eu conto?

Será que eu conto

Que tudo que ele apronta

É acalanto pro meu dia?

Que eu fico quase tonta

Com tanta sintonia?

Será que eu conto

Que a natureza desse encontro

Já mudou o meu canto,

O meu santo,

A minha poesia?

Mas eu nada conto,

Nada digo:

Fecho a boca de espanto

E de medo do perigo.

Ele também não sabe

Que minhas dores no estômago

São borboletas na barriga.

Dois sóis

Meu amor,

agora que nos lavamos

- do medo

Confiemos nas águas 

Que nos atravessam:

Somos dois rios

Correndo pra diferentes lados.

Meu bem,

depois que nos despirmos

- da culpa

Amaremos um ao outro

Como jamais fizemos:

Fomos dois sóis

Egotrepados.

Meu amor,

quando nossos olhares se cruzarem

- de novo

Quero enlaçar meus braços nos teus

E, sim:

Fingir que nenhum fim

Aconteceu.

Sorte de ser

Vibra o amor em mim:
Fibra de aço e cetim,
Forte e suave é o amor.
É frequência certeira
Que me toca de primeira
Feito batida de tambor.
É descoberta recente
Na sua forma potente
De paz e calor.
O amor, agora,
Comemora,
Enfim,
Sua sorte de ser:
Quando habita em mim
E também em você.

Poema quântico

Quando eu olho pro Agora,
Eu o abraço.
Digo "obrigada"
E choro em seu ombro

Quando eu olho pro Antes,
Me torno mãe.
O repreendo
Mas acho graça

Quando eu vejo o Depois,
Nem sinto medo.
Ele é quem me abraça
E me estende a mão

Quando eu vejo você,
O tempo é Nada.
O instante é a certeza
Junto ao amor

O amor é Sempre,
O amor é quântico.
Viva o amor real!,
E também o romântico.

Des-tema

É preciso cair do abismo,
Desamarrar
E sem derrotismo
Desapegar

É preciso brincar com as sombras,
Amolecer.
Descobrir o que te assombra
É destemer.

É preciso libertar,
É proibido proibir.
E no ato de enfrentar,
Florir.

O olhar mais doce do mundo

O olhar mais doce do mundo
Me leva prum abismo seguro:
O medo não mais segura,
Me lanço de coração puro

O olhar mais doce do mundo
É também o abraço-cúmplice
E é regado a poesia
A cada suspiro de segundo

O olhar mais doce do mundo
Me colore por inteira
Com cores que eu não conhecia
Com a entrega mais verdadeira

O olhar mais doce do mundo
Me preenche de paz e desejo.
Não quero mais nada da vida
Toda vez que eu o vejo...

O olhar mais doce do mundo
Me arrebata, me emudece.
Não há palavra que aguente
Quando o amor acontece

Falso amor moderno - parte 2

Te dei a senha do meu wi fi,
Do meu cartão;
Desbloqueei meu telefone
E meu coração

Mas a conexão caiu
Quando eu caí na sua rede.
Meu 4G não suportou
Nosso "entre 4 paredes"

Seus stories ainda vêm primeiro,
No uber vejo seu endereço.
Vivo por suas visualizações:
Daqui a pouco eu enlouqueço!

Eu fui com muito conteúdo
Pra sua pouca memória.
Eu fui uma mulher apaixonada;
Você, só um contador de histórias.